sábado, 4 de setembro de 2010

Rosa de Aço

No teu miolo há um coração gelado.
Se engana quem pensa que não é de aço a tua pétala
E cor alguma existe em tua sépala
Do ar das geleiras é que és amiga
N' onde animal nenhum, voador ou rastejante, jamais emigra.
Kant embaraçado, pedra no teu encalço.
Tu que calçastes com cadarço
Assas apertado, este meu sapato amarrado
Este meu par velho e surrado
Que no quanto quarto, dorme empoeirado.

Pedras de apoio em meio ao mar
Escorregadias mesmo que sadias
Incertas vertigens como pontes bambas
Meu afã é desfragmentar, e de quebra,
Reconstruir os mil-e-um quebracabeças.

Antes Que Se Solte

Da consciência-fluxo nasceu esse impulso

E o mergulho foi tão profundo, foi tamanha fome-vento
Que quando dei por mim já havia me perdido em meio a imensidão.
E era tantos olhares para tantos lados
Que a dúvida permanecia em meu encalço
E antes de pôr fim a tudo,
Antes de me sentar a desequilibrada gangorra,
Peço que o bambu não ceda
E que reste ainda uns poucos segundos para este terrível solilóquio.

Porque te rebaixastes, oh Jó? Ovelha fiel. Com teu inspirado espírito, com teu ofício elevado. Vê o que te aguarda.

                                                               Todos os rios levam ao mar e o mar não transborda.

Tu não fazes por paixão, esse é teu erro. Fazes somente por servidão. Como tenho medo do tamanho do teu medo, grandiloquente.

                                          Eloquente. Elocubração vã.


                Esse fardo pesado, larga-o. Não foi feito para ser carregado, solta-o, agora!!

Fome de Sol

DAS VÍVIDAS PLANTAS ÁVIDAS: Oh, árvores de Java, como sobem, aquela fome de sol, aquela lava-límpida juventude, sempre nova, renovazilnova...morrem estando ainda virgens, anida tão curas, tão verdes assombrasol, gela na sombra, seca no sol. O homem que alcança com asco, sobe viril como esssas árvores, e voa alto, tamanha altura, quase congela. Melhor mancheia de nojo que olhos de gordura.

Nhe-êng

Para lavar a alma, palavra-alma,
É preciso ter cinco nomes de Deuses
Cinco "segunda pessoa"
Uma puta ampulheta pesada
Para filtrar o fio fino da língua.
Como é fino o fio da navalha,
Afiada e prateada.
É preciso ser como a malha,
Trabalhada à mão ou à máquina
De algodão ou lã,
Ou de seda pura.
Pois toda malha precisa de uma mão
E toda língua de um formão.

                                  in guaranis