sexta-feira, 6 de maio de 2011

Sobrumbrais

Sorvem néctar das flores
Mantêm-se nos galhos, suspendidos.
Salvos de si.
Sentam-se somente entre os seus
Olhares rápidos sobre outros.
martelam idéias.
Rebombam vitupérios astrológicos
Seguros de suas convicções
Poderoso alarde sobre as massas
Abalos mentais sísmicos
Salve salve a calma das estepes
Salve o mundo silêncio do molusco.
Cascas de caramujos aspirais quebram mastigados
Iluminuras das visões macrocósmicas das ciências
Sândalos sobre umbrais
Selvagens cannibais sonham árvores
Corações violentos ardem ao sol
Relva, gotas e florins
Jardim de jasmim
Há um tigre no caminho
Há mácula na meca
Mancha na meta.
Carlos era um ninguém. Não tinha ambição. Nã havia nada na sua frente. Sentia-se só quando até cercado de muitas pessoas queridas, até as que tinham ainda algum significado. Não conseguia se encontrar, nem cercado deles. Tinha um buraco dentro do peito que teimava em não mostrar a ninguém. Pensava que se conhecia, mas era nos momentos de angústia que mais se perguntava afinal de contas o que faria com a própria liberdade. Pois não sabia que caminhos trilhar, não sabia para onde se aventurar. Era um completo fracassado, não o tipo arriscador, mas aquele sujeito sem histórias, sem sonhos, vivendo uma via sem saída. Havia sim quem o amasse, mas ele era incapaz de perceber vivendo sempre nos cantos com suas argumentações. Perscrutando assuntos que nunca iam o levar a nada. E nesse nada era onde estava submerso. Na angústia sagaz de suas condições existencialistas e sem objetivos. Vivia uma vida pacata e nula. Não interagia com seus familiares e a única pessoa que sentia que lhe amasse era sua própria mãe. Que lhe entendia. Que estava com ele nas piores crises que tinha passsado. Não tinha muitos amigos e até os poucos que tinha causavam lhe desconfiança. Era incapaz de confiar. Seus amores, poucos, pareciam ter acontecido há muito tempo atrás. Não era de muitas atitudes ou de encabeçar grandes projetos. Talves na sua juventude tenha acreditado muito em sonhos resplandecentes e hoje era incapaz de realizar tarefas simples. Tinha  construido em torno de si tal mania de majestade que não conseguia mais romper. Passava horas lendo. Não que se encontrasse na leitura, mas era a única forma de olhar para a realidade de uma outra perspectiva que não a daquele mundo de trabalhar, comer  e dormir em que todos a sua volta vivenciavam. A leitura abria uma janela. E por mais que o processo fosse demorado ele achava que valia a pena correr o risco de passar horas trancado no seu quarto de estudos. Aguardava um grande ato, aguardava o momento de um grande acontecimento. E a consciência da sua própria realidade parece nunca chegar. Era cego para as coisas realmente importantes. Inseguro e quando em vez ia ao cinema sozinho. Seus casos pareciam não querer repertir. Teve uma época que esteve seguro de si em relação a amores, mas agora não sentia aquele touro de antes. Tinha 32 anos e espírito de 65. Se identificava com pessoas mais velhas, dessas que passam maior parte do tempo se queixando.
 Um dia chuvoso decidiu, quando voltava do trabalho, passar tomar uma dose antes de ir pra casa. Não era de fato alcólatra, mas pelos menos duas ou três vezes por semanas passava para tomar apenas uma dose de vermute no bar do Jayme. Foi entrando no bar e fechando guarda-chuva encharcado, viu dois homens que defintivamente não eram frequentadores  daquele lugar. Estavam muito bem arrumados vestindo Black Tie. Chegaram para ele e:
   - Você é o Carlos?
   - Sim e vocês?
   - Acompanhe-nos, por favor. Disse o mais baixo, gordo de bigode.
   - Hei, eu não os conheço, o que vocês querem?
   - É melhor vir com a gente. Abrindo o paletó e mostrando uma Smith & Welson.

27 de Abril de 2011

Terra e tempo
Pictografia japonesa
Borbulha pérolas nas lamas
Língua lânguida
Fala líquida
Livros de receitas caseiras da avó
Bucólicas colonias o peso das tardes sentem
Cro-Magnon já donminavam cerâmica
Pinturas rupestres nas cavernas ameríndias
Pandas passavam maior parte do tempo mastigando bambus, sentados.
Desenvolveram um mecanismo para manipula-los
Tupinambás evoluiram a arte de construir flexas
Varavam peitos navegantes
Possuíam táticas avançadas de guerra.
Si vis pacem, para pacem.

02 de Maio de 2011

Ai de mim se não fosse as belas artes
Se não houvesse noites plangentes de boemia e viola
Ai de mim se não fosse os amores desgarrados
Máculas nos lençóis amarrotados
Licorosos deleites
Ai de mim se não habitasse nessa selva de pedra
Aqui onde as surpresas são constantes
Fosse eu um desbravante e mudasse para solo insólito
Saberia que onde há desventura está também a vaidade
Onde se pregoam cristos sai dali também guerreiros
Se soubesse que de tão perto há frivolidade de vista
E pusesse a caminho de estepes ermas
Quisá sairia de si um vulcão de incandescente ferve
Bastaria uma resma de flores, uma luz de briho opaco
Que seja, mas não há em tanta megasolidão nem vento que derrube são.
Nem aurora despontou, já bravos desembanham espadas
Nem zéfiros rumam pro leste  abelhas zumzumbizam das zonas
Dizendo assim como de doce canto e milífluo discursar
Sai de dentro um anjo branco, não sentia o salpicar
Que de caridoso passou a despertar
De desordeiro aprendeu a esperar
De amplo foco de lente perspicaz começou a ajustar
De sem jeito postou o capuz de capataz
Nem férvido nem milagroso, passou de ante para trás
Dia-a-dia, degrau após degrau passou de verde
Amadureceu
Rasgou as vestes, ralou árduo nos campos
Rompeu duras verdades, Sangrou sob o sol.

terça-feira, 22 de março de 2011

Famiglia

Por essa via, o corpo vil bamba e desalinha. O meu piú mudo mundinho sai das esgueiras do sonho lancinante. Por entre as gueiras. Família grande. Tutto cosa nostra. Os tios falam alto. Têm manias várias. Desbravadores, lutam pela vida. Batalhadores. Muito suor sob os campos. Afável afeto. As tias, cozinheiras de mão cheia. Riquesa à mesa. O segredo está nos temperos. Receitas de gerações à gerações. Calor nos colos. Mãos em baixo, seguras; mãos em cima, protegem. Mão unidas. O terço. Rezas e velas. A união. Simpatia. Oralidade, afinal de contas: leituras são segundo plano, somente para medidas urgentes e cabíveis. Água na bacia. Banho no bebê. Tarde quente e ensolarada lá fora. São uns tão parecidos com os outros e se mantivermos sincronismo, pra que crescer tão diferentes? É o âmbar da evolução embriônica, a variabilidade genética. Mas as vezes da vontade de abrir um buraco no ar. Uma janela para a lua. Para que a lua possa entrar. Saltemos para mundo distante de ares mais gélidos. De experiências subimes. Dança sob o arco o corpo oco. Sempre sentindo sabor de sálvia. Saindo por entre os becos. Movimento viceral entre vias de pedras. Há muito trabalho pela frente. São poucos os minutos de deleite. Se embriague deles. Se entregue com total devassidão. Um orgasmo. Dois. Três. Ah como é saboroso o repouso. Que macio esse leito. Branco. Sono brando.

No gelo

Fluorfel magentóvski turvisiona a densa névoa
semivê o fulcrocru cracóvico
semeia semisemen na santaceia
azulgelo porentre branconeve sinuosogalho
coberto
canto
colhe
bri.

Manhã

Despertou antes da aurora, José Walk, gostava de ver os raios despontarem sobre o horizonte. Dizia que era o leque de Deus que surgia no firmamento. Ainda sonolento caminhou até o banheiro, esgueirou o rosto sobre a bacia de inox, a água congelara na superfície, formava cascas. José Walk quebrou as cascas com as mãos ainda quentes da cama confortável. Manteve as mãos submersas durante alguns segundos, tempo suficiente para perder a sensibilidade  por causa do gelo e finalmente juntous uma porção de água nas duas mãos e tocou no rosto.
Não havia quem lhe servisse o café da manhã. Rompera o relacionamento de três anos com sua exesposa por mil e um motivos que nem cabe lembrar agora. José Walk desceu até a cozinha pelas escadas em forma de aspiral. Curvou-se, pegou a frigideira de teflon que ficava sob a pia. Botou para esquentar e fitou, um fogo baixo, uma fatia de presunto e duas de queijo.
Aqui se come carne -pensou, se fosse judeu estaria alheio a isso. José Walk olhou pela jmanela e viu os primeiros raios de luz despontarem no horizonte.
- E começo aqui e meço aqui este começo e recomeço.
O queijo já estava borbulhando, separou-os num prato. Tomou duas fatias de pão integral que havia comprado dos membreos da doze tribou e passou manteiga salgada, vinda de minas e jogou na frigideira. Gostava de misto quente com fatias de pão tostados. Fatiou três rodelas de tomate, uma pitada de orégano e estava pronto o misto quente.
Esquentou água e enquanto passava o café, sentia aquele cheiro familiar roer o ar. Viu através da janela passar uma cabeça, era Ângelo Carrascozza, que praticamente todas as manhãs tomva o desjejum com José.
- Em casa de malandro, vagabundo não pede emprego. Disse Ângelo, entrando e já se mostrando confortável com o ambiente.Os dois se sentaram e José lhe serviu uma xícara de café.
- Obrigado, Om, tenho aqui uma surpresa, veja! Disse Ângelo tirando do bolso um punhado de sementes. É cardamomo, os árabes costumam mastigar tomando café.
José mastigou três sementes  e sentiu o frescor tormar-lhe conta da boca, tomou um trago do café e percebeu as diversas sensações que essa combinação trás.
- Hum, uma delícia, Ângelo, você sempre com suas novidades; mas tenho que te contar sobre meus novos estudos. Descobri a força daquilo que me parece ser o mais poderoso dos fenômenos.
- Ah é! Você estuda demais, cuidado, Om, você pode enlouquecer, mas o que você descobriu que é tão importante? - perguntou Ângelo deitando mel sobre uma fatia de pão integral.
- O tempo, Ângelo, o tempo...
Ângelo Carrascozza soltou uma gargalhada alta e vibrante. O sol já inundara a cozinha. José mantinha seu olhar fixo, como não visse nada, nadando em pensamentos infinitos nem percebendo como Ângelo quebrava com a gargalhada o silêncio calmo da manhã.
- Mas, José, Einstein já resolveu esse problema há cinquenta anos. Por acaso quer revolucionar a ciência? perguntou, recuperando o fôlego.
- Não se trata de ciência. Tempo é arte.
- Hum.
- Aquele que é dono do Tempo é senhor do universo. Nosso tempo mecânico não está em sincronismo com a contagem do tempo da Natureza.
- Acho que vi isso em algum catálogo. Terra, pão, família, amor, trabalho e tempo.
- O Tempo é o nosso tesouro de maior valor, para além das fronteiras da matéria. Até, dizem, ser o quarto estado. Vibratório.
Argüente, Ângelo se levantou.
Sairam, tomaram a rua Bartolomeu Bueno e subiram até a avenida Souza Naves, caminharam pela Vila Ipiranga. O sol já estava forte então se orientavam a andar sob a copa das árvores. Sentiam purificar o pulmão e toda a carne pelo frescor da manhã.
Conversavam sobre o que os olhos viam, a nostalgia da paisagem da cidade do interior, sobre suas memórias, os planos para o futuro. Apesar de terem praticamente a mesma idade o ntalhe de seus espíritos era diferente. José espirituoso, versátil, inquiridor, silencioso, agregador; Ângelo risonho, loquaz, verborrágico, agitado, errante, colérico. Caminhantes, juntos, eram como mentes gêmeas. Até conversavam sobre a prática da telepatia, mas teriam que pessar pelo menos um dia inteiro juntos sincronizando atividades: comer, plantar, lavar e enxugar a louça, plantar, beber; mas não levavam assim tão à sério essa ciência, pelo menos da parte de Ângelo, que tinha a força da fé no seu coração, o que fazia com que não se perguntasse muito sobre a transedentalidade.
Diminuiram o passo paleo encanto da paisagem. Passava uma moça de pele macia, lábios magenta, tão  bela quanto a lua. Disse Ângelo:
- Que tão linda anca.
- Que tão vil bardo. Mas sabe, Ângelo, tenho usado uma técnica venuziana excelente.
- Ah é. Qual?
- Chega a ser uma lei. Abrir e dar às costas. Sempre começo a conversar com alguma bela (ou uma puta) e depois de um tempo, exatamente no momento em que ela está falando invento um porquê lhe dar as costas. Você precisa ver como funciona. Dar as costas para uma dama é como lhe dar um não, e lhe dar um não significa caminho aberta para você, florido.
Continuaram caminhando naquela manhã fresca. Passaram em frente ao bar do J. e lembraram quantas noites passaram ali bebendo, discutindo, jogando e voltando para casa em meio às madrugadas silenciosas secando o resto de um corote de pinga ou de vinho. Mas estava vivendo uma nova faze de suas vidas, não pelo menos com a mesma intensidade de antes. As noites profundas, suas  aventuras amorosas ecoavam nas reminiscências, nadavam em histórias sem fim, bem como suas leituras de juventude. José gostava dos provençais:
- Autet e bas entre ls prims fuoills,
  son nou de flors els rams lirenc,
  e noi ten mut bec ni gola
  nuills auzels.
- Soa bem, mas não conheço essa linguagem. Pra quê você decora essas coisas?
- Conheci um sábio enquanto estive preso. Recitava de cor muitas frases, máximas poéticas e de sabedoria. Parecia uma enciclopédia ambulante. Dizia que era para aquele tipo de situação que servia a poesia. Para quando não houvesse mais nenhuma materialidade. Me ensinou também o valor da terra e como cultiva-la e tantas outras coisas que só o tempo me mostra seus ensinamentos brotando no meu presente. Arrasto-o atraves do meu tempo, por seus exemplos. Ensinou a paciência, a me desvencilhar de atos precipitados como de Harum-al-Rachide.

O orador

Em uma cidade do interior, muito pequena. Os poucos habitantes que moram ali são todos analfabetos com excesão de uma pessoa, que é considerado o sábio, o iluminador. Todas as sextas-feiras o povo se sentava em torno dele. O sábio se sentava em uma cadeira de pau e contava as histórias que ouviu dos livros. Tanto é seu carisma que os habitantes da cidadezinha nem tinham a preocupação de aprender a ler, preocupam-se apenas em estar às sextas, quando o sol se põe, na praça, onde ouviam e se deleitavam com as lendas e histórias de outros mundos, de outas culturas, com novidades diferentes das que estavam acostumados.
Havia naquela cidade uma grande biblioteca deixada há muito por um ancestral que lia muito e era portador de grande conhecimento. O grande orador passava maior parte do tempo lendo e enfiado na biblioteca e seus arredores. Eram saborosas suas histórias e era a maior forma de prazer para o povo. Havia um belo jardim em torno da biblioteca. Quando o orador não estava lendo, estava cultivando o jardim, a terra era fértil, as flores belas e coloridas.

Pro alto

Piras acessas homenageiam deuses
Fumaças de fogos ascendem aos céus
Pallas Athenas nos guie por entre as sendas
Para os egípcios Amon-Rá, Isis, Osíris
Ajoelham ante Allah os muçulmanos
Terra fértil sob nós
Luz por entre as folhas
Ventos aflúvios na floresta
Fogo-fátuo
Água calma
Paz reina sobre ímpério banto
Justiça ao mundo muçulmano
Glória aos gregos.

domingo, 30 de janeiro de 2011

"São os únicos versos que se conhecem de um condenado à morte no reinado da Rainha Elizabeth I, com o estranho nome de Chidiock Tichborne, e que ele mandou à mulher na véspera de sua execução (tinha 28 anos de idade)"

Meu ápice da juventude é a geada do zelo,
Meu banquete de alegria é um prato de dor,
Minha safra de milho não é mais que um campo de rasgos.
E todos os meus bens não são mais que ganho de esperanças vãs.
Findou-se o dia; passou sem sol.
Vivo, sem vida.

Meu canto foi ouvido e ainda não foi dito.
Meu fruto está caído, minhas folhas ainda verdes.
Minha juventude está gasta, ainda não evelheci.
Vi o mundo, ainda não fui visto.
Meu fio está cortado, ainda não espanou.
E vivo, sem vida.

Vira minha morte e a encontrei em meu ventre.
Busquei pela vida e vi que era sombra.
Andei pela terra e reconheci meu túmulo.
E agora eu morro, e agora tudo está consumado.
Meu copo está cheio, meu copo tranbordou.
E vivo, sem vida.

Transcriado por Marina, André, Carina e Nego.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Aromaoriente

Egito, 1256 A.C.

    Feira livre entre dinares, suores e ventos
havia favas frescas, alcachofra e quiabo cozido.

    Marcam com perseverança sua presença.

Molhos, purês, cremes e guarnições.

Comerciantes egípcios tomam ersoos antes da ceia;
libaneses, arak, comem frango preparado sem legumes e com sêmola de grão grosso, chamados:
   
                                              Moghrabié
 
 Grandes e saborosos camarões de Alexandria

                                              Gambari.

Arder

E fogo purifica a dor, e a dor, sedenta, voa em direção à sede, nunca saciada de si. Mas continua, diadia, sobrevoando sobranceira sobre o arauto.
E não percebe, pois não olha em torno de si, que só algo resta: SERAFIM.
Ah! e tantas milelocubrações vãs, e tantas às claras noites, foram tamanho desperdício.

Como um grande castelo de areia que ao longo do tempo rui.
"Viver é acreditar"
        Kierkgaard

Literatura

Literatura Tituraterra Litudaterra Litudodaterra Litrode terra Litno-terra Litelúrico Lilúdico Telúricolúdico Telúricoterra Arterra Lipraprodígio Livellitígio Livroolivro Litteraar Literal Liderar Lider-ar Lenhalei Pantarhei Tudoflui Literatudo
Sobresou o que sobrevi vi
"Guttemberg criou a indústria da imortalidade".

Fechandolhos

À beira da morte está um homem, ela está à poucos segundos dele. Mas lembra ele, naquele segundo derradeiro está também toda a história da humanidade e toda história da imortalidade.E ainda retira forças das entranhas para clamar por luz "Luz, luz, mais LUZ!!". E assim como se repara o bombo, o gajo que rebomba o bumbo, presa pela última fímbria de vida que lhe resta, esse apêndice, essa apendicite. Pedaço de carne mole e pulsante, emborrachada. Os olhos começam então a se fechar e negrura fende esta fissura. "Deus Meu! Por onde estive todo este tempo? Por onde caminhei? Que caminhos fúteis!" Então a negrura, como maremoto tempestuoso, inunda. E aquilo que era, nadifica-se.
                                                                                                 
                                                                                                              ... no extremo exterior da terra.

Fases da música

                                         
                                                             Furia
                                                             Selvagem/primitiva
                                                             Circular
                                                             Passível

A Passível é a fase de baixo, a mais metódica, funcional, metodológica. Sem instinto. É a fase robótica do músico que em uma certa hora deixa a música.
A Circular do músico que saboreia as notas e conclui aquilo que toca. Nesta fase já existe um quê de instintiva, é fase de um músico plausível de profissionalismo.
A Selvagem/Primitiva é a do músico "analfabeto" em que a música é escuridão. É puro instinto. É Bela. É a circular com floreio. Não deixa de ser Circular, mas vai além dela. No entanto é humilde e recalcada. E esta é a fase mais saborosa para ouvidos acostumados com os cliches daquela determinada música.
E finalmente a Fúria a qual pertencem somente os grandes gênios. É a selvagem para além das fronteiras da visão do tempo. É o que não é previsto. O músico que cabe nesta fase é o artista corajoso, o extra-ousado, o incompreensível, o que está à frente de seu tempo, é o instintivo mais o circular mais a genialidade que é impalpável. Este é um filho do Acaso com a determinação.

Quase-parado

d'Aquide Meu ninho não há relógio nem espelho
pois o relógio conta momentos mamelucos,
e o espelho refrete a imagem crescente da minha loucura.
Logos, a loucura se faz bela e zombo da minha nesciez
Com riso sarcástico e pavoroso que assusta o outro
Na calmaria vil de sua constância, seu tremor estânque
A regaça bocarra qe zsombra da fraquesa, da fraquesa inanimada,
Meus malvos olhos coléricos, olhos de um gigante estremesse o subjetil.
 E do próprio erro, ri.
Inflama os céus, todas as manhãs, o flamejante Sol

Luz

O sol arde. E começa aqui a empreita da estrela cintilante, do homem ilustre, preocupado com o luxo, de como azedinho-doce. E o fluxo flui e o aroma expira, e dos esféricos poros, suarentos, sobremina. De sua caverna sombria e úmida, migra. E depois de muitos prazeres e tantos deleites sentiu o sabor da bolha vaziae daí então é que desistiu da fala e permaneceu num canto, com seu olho-vidro, frêmito. Foi então que olhou ao redor e viu homens menores e não viu nenhum que o igualasse em estatura, permaneceu então imóvel e disse consigo "Não há de surgir outro homem como este? Que pensa um outro do mesmo tamanho deste? Será que ele também se envaidesse de si? e deseja também outro que o iguale em gigantismo?" Mas não permaneceu de todo queto; vôou sobre as nunves e navegou por entre os mares e ouviu o linguajar de muitos povos, ceou com eles e ouviu suas histórias, e jamais fadigado, pasmou. Então ergueu as mãos e clamou: "Oh, estrela afável, que não somente olha por si, contemplai meu sofrimento, guiai esta alma, tão bela ao vosso olho, em direção à luz". E a estrela afável então o guiou.