sexta-feira, 6 de maio de 2011

Carlos era um ninguém. Não tinha ambição. Nã havia nada na sua frente. Sentia-se só quando até cercado de muitas pessoas queridas, até as que tinham ainda algum significado. Não conseguia se encontrar, nem cercado deles. Tinha um buraco dentro do peito que teimava em não mostrar a ninguém. Pensava que se conhecia, mas era nos momentos de angústia que mais se perguntava afinal de contas o que faria com a própria liberdade. Pois não sabia que caminhos trilhar, não sabia para onde se aventurar. Era um completo fracassado, não o tipo arriscador, mas aquele sujeito sem histórias, sem sonhos, vivendo uma via sem saída. Havia sim quem o amasse, mas ele era incapaz de perceber vivendo sempre nos cantos com suas argumentações. Perscrutando assuntos que nunca iam o levar a nada. E nesse nada era onde estava submerso. Na angústia sagaz de suas condições existencialistas e sem objetivos. Vivia uma vida pacata e nula. Não interagia com seus familiares e a única pessoa que sentia que lhe amasse era sua própria mãe. Que lhe entendia. Que estava com ele nas piores crises que tinha passsado. Não tinha muitos amigos e até os poucos que tinha causavam lhe desconfiança. Era incapaz de confiar. Seus amores, poucos, pareciam ter acontecido há muito tempo atrás. Não era de muitas atitudes ou de encabeçar grandes projetos. Talves na sua juventude tenha acreditado muito em sonhos resplandecentes e hoje era incapaz de realizar tarefas simples. Tinha  construido em torno de si tal mania de majestade que não conseguia mais romper. Passava horas lendo. Não que se encontrasse na leitura, mas era a única forma de olhar para a realidade de uma outra perspectiva que não a daquele mundo de trabalhar, comer  e dormir em que todos a sua volta vivenciavam. A leitura abria uma janela. E por mais que o processo fosse demorado ele achava que valia a pena correr o risco de passar horas trancado no seu quarto de estudos. Aguardava um grande ato, aguardava o momento de um grande acontecimento. E a consciência da sua própria realidade parece nunca chegar. Era cego para as coisas realmente importantes. Inseguro e quando em vez ia ao cinema sozinho. Seus casos pareciam não querer repertir. Teve uma época que esteve seguro de si em relação a amores, mas agora não sentia aquele touro de antes. Tinha 32 anos e espírito de 65. Se identificava com pessoas mais velhas, dessas que passam maior parte do tempo se queixando.
 Um dia chuvoso decidiu, quando voltava do trabalho, passar tomar uma dose antes de ir pra casa. Não era de fato alcólatra, mas pelos menos duas ou três vezes por semanas passava para tomar apenas uma dose de vermute no bar do Jayme. Foi entrando no bar e fechando guarda-chuva encharcado, viu dois homens que defintivamente não eram frequentadores  daquele lugar. Estavam muito bem arrumados vestindo Black Tie. Chegaram para ele e:
   - Você é o Carlos?
   - Sim e vocês?
   - Acompanhe-nos, por favor. Disse o mais baixo, gordo de bigode.
   - Hei, eu não os conheço, o que vocês querem?
   - É melhor vir com a gente. Abrindo o paletó e mostrando uma Smith & Welson.

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