terça-feira, 22 de março de 2011

Manhã

Despertou antes da aurora, José Walk, gostava de ver os raios despontarem sobre o horizonte. Dizia que era o leque de Deus que surgia no firmamento. Ainda sonolento caminhou até o banheiro, esgueirou o rosto sobre a bacia de inox, a água congelara na superfície, formava cascas. José Walk quebrou as cascas com as mãos ainda quentes da cama confortável. Manteve as mãos submersas durante alguns segundos, tempo suficiente para perder a sensibilidade  por causa do gelo e finalmente juntous uma porção de água nas duas mãos e tocou no rosto.
Não havia quem lhe servisse o café da manhã. Rompera o relacionamento de três anos com sua exesposa por mil e um motivos que nem cabe lembrar agora. José Walk desceu até a cozinha pelas escadas em forma de aspiral. Curvou-se, pegou a frigideira de teflon que ficava sob a pia. Botou para esquentar e fitou, um fogo baixo, uma fatia de presunto e duas de queijo.
Aqui se come carne -pensou, se fosse judeu estaria alheio a isso. José Walk olhou pela jmanela e viu os primeiros raios de luz despontarem no horizonte.
- E começo aqui e meço aqui este começo e recomeço.
O queijo já estava borbulhando, separou-os num prato. Tomou duas fatias de pão integral que havia comprado dos membreos da doze tribou e passou manteiga salgada, vinda de minas e jogou na frigideira. Gostava de misto quente com fatias de pão tostados. Fatiou três rodelas de tomate, uma pitada de orégano e estava pronto o misto quente.
Esquentou água e enquanto passava o café, sentia aquele cheiro familiar roer o ar. Viu através da janela passar uma cabeça, era Ângelo Carrascozza, que praticamente todas as manhãs tomva o desjejum com José.
- Em casa de malandro, vagabundo não pede emprego. Disse Ângelo, entrando e já se mostrando confortável com o ambiente.Os dois se sentaram e José lhe serviu uma xícara de café.
- Obrigado, Om, tenho aqui uma surpresa, veja! Disse Ângelo tirando do bolso um punhado de sementes. É cardamomo, os árabes costumam mastigar tomando café.
José mastigou três sementes  e sentiu o frescor tormar-lhe conta da boca, tomou um trago do café e percebeu as diversas sensações que essa combinação trás.
- Hum, uma delícia, Ângelo, você sempre com suas novidades; mas tenho que te contar sobre meus novos estudos. Descobri a força daquilo que me parece ser o mais poderoso dos fenômenos.
- Ah é! Você estuda demais, cuidado, Om, você pode enlouquecer, mas o que você descobriu que é tão importante? - perguntou Ângelo deitando mel sobre uma fatia de pão integral.
- O tempo, Ângelo, o tempo...
Ângelo Carrascozza soltou uma gargalhada alta e vibrante. O sol já inundara a cozinha. José mantinha seu olhar fixo, como não visse nada, nadando em pensamentos infinitos nem percebendo como Ângelo quebrava com a gargalhada o silêncio calmo da manhã.
- Mas, José, Einstein já resolveu esse problema há cinquenta anos. Por acaso quer revolucionar a ciência? perguntou, recuperando o fôlego.
- Não se trata de ciência. Tempo é arte.
- Hum.
- Aquele que é dono do Tempo é senhor do universo. Nosso tempo mecânico não está em sincronismo com a contagem do tempo da Natureza.
- Acho que vi isso em algum catálogo. Terra, pão, família, amor, trabalho e tempo.
- O Tempo é o nosso tesouro de maior valor, para além das fronteiras da matéria. Até, dizem, ser o quarto estado. Vibratório.
Argüente, Ângelo se levantou.

Um comentário:

  1. Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência

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