terça-feira, 22 de março de 2011

Sairam, tomaram a rua Bartolomeu Bueno e subiram até a avenida Souza Naves, caminharam pela Vila Ipiranga. O sol já estava forte então se orientavam a andar sob a copa das árvores. Sentiam purificar o pulmão e toda a carne pelo frescor da manhã.
Conversavam sobre o que os olhos viam, a nostalgia da paisagem da cidade do interior, sobre suas memórias, os planos para o futuro. Apesar de terem praticamente a mesma idade o ntalhe de seus espíritos era diferente. José espirituoso, versátil, inquiridor, silencioso, agregador; Ângelo risonho, loquaz, verborrágico, agitado, errante, colérico. Caminhantes, juntos, eram como mentes gêmeas. Até conversavam sobre a prática da telepatia, mas teriam que pessar pelo menos um dia inteiro juntos sincronizando atividades: comer, plantar, lavar e enxugar a louça, plantar, beber; mas não levavam assim tão à sério essa ciência, pelo menos da parte de Ângelo, que tinha a força da fé no seu coração, o que fazia com que não se perguntasse muito sobre a transedentalidade.
Diminuiram o passo paleo encanto da paisagem. Passava uma moça de pele macia, lábios magenta, tão  bela quanto a lua. Disse Ângelo:
- Que tão linda anca.
- Que tão vil bardo. Mas sabe, Ângelo, tenho usado uma técnica venuziana excelente.
- Ah é. Qual?
- Chega a ser uma lei. Abrir e dar às costas. Sempre começo a conversar com alguma bela (ou uma puta) e depois de um tempo, exatamente no momento em que ela está falando invento um porquê lhe dar as costas. Você precisa ver como funciona. Dar as costas para uma dama é como lhe dar um não, e lhe dar um não significa caminho aberta para você, florido.
Continuaram caminhando naquela manhã fresca. Passaram em frente ao bar do J. e lembraram quantas noites passaram ali bebendo, discutindo, jogando e voltando para casa em meio às madrugadas silenciosas secando o resto de um corote de pinga ou de vinho. Mas estava vivendo uma nova faze de suas vidas, não pelo menos com a mesma intensidade de antes. As noites profundas, suas  aventuras amorosas ecoavam nas reminiscências, nadavam em histórias sem fim, bem como suas leituras de juventude. José gostava dos provençais:
- Autet e bas entre ls prims fuoills,
  son nou de flors els rams lirenc,
  e noi ten mut bec ni gola
  nuills auzels.
- Soa bem, mas não conheço essa linguagem. Pra quê você decora essas coisas?
- Conheci um sábio enquanto estive preso. Recitava de cor muitas frases, máximas poéticas e de sabedoria. Parecia uma enciclopédia ambulante. Dizia que era para aquele tipo de situação que servia a poesia. Para quando não houvesse mais nenhuma materialidade. Me ensinou também o valor da terra e como cultiva-la e tantas outras coisas que só o tempo me mostra seus ensinamentos brotando no meu presente. Arrasto-o atraves do meu tempo, por seus exemplos. Ensinou a paciência, a me desvencilhar de atos precipitados como de Harum-al-Rachide.

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